domingo, 26 de julho de 2020

Ryôkan - Todos os haicais

Impressões de leitura - 2020

Ryokan Taigu - 1758 - 1831


Título: TODOS OS HAICAIS
Autor: Ryōkan Taigu
Tradução: Roberto Schmitt-Prym
Ensaio: Andrei Cunha
ISBN 978-85-94187-41-3
Formato: 12 x 18 cm.Páginas: 70
Gênero: Poesia
Publicação: Class / Bestiário, 2020
Coleção completa dos haicais do monge budista Ryōkan Taigu, em edição bilíngue.




Ryokan foi um importante monge, calígrafo, poeta. Eu conhecia alguns dos seus haicais e sentia muita curiosidade por seu estilo de escrita. Então, na ocasião do lançamento do livro, excepcionalmente preferi comprar o e-book em pré-venda, antes do livro impresso. Foi a união do momento - pandemia, curiosidade sobre o livro e necessidade de focar em algo que me despertasse atenção. Terminei a leitura e mais do que nunca, convicta da atemporalidade do haicai. Explico, ainda que se refira ao momento presente, há nestes poemas tamanha percepção da vida, da natureza e da transitoriedade. Sem ser subjetivo, o haicai pode falar ao coração e aos sentimentos de sempre. 

Ryôkan Taigu
Riôkan Taigu



Eis aqui um haicai de Ryôkan que me fala de saudade, ainda que o kigo seja a primavera. Em tempo de isolamento social e pandemia, reflete meus sentimentos atuais. Como estarão, os amigos, os parentes, os que isolados sentem a ausência do normal? A inconstância dos dias futuros enquanto a primavera ainda não vem.  Ao leitor que chegou até aqui, preciso esclarecer que este texto não é uma resenha, são minhas breves impressões de leitura sobre esse livro tao interessante.

Gostei muito, Ryokan escreveu haicais melancólicos, fortes, de grande presença pessoal. Há em seus haicais um profundo sentimento de solidão, a imensidão da natureza e contemplação humana. As notas do tradutor são bem esclarecedoras, principalmente no que refere a costumes ou kigos de outras épocas e lugares. 
                             
As observações a seguir foram retiradas/resumidas do prefácio do Professor Andrei Cunha. O ensaio no posfácio do livro é muito bonito, principalmente o trecho sobre a cuia de esmolas e a humanidade.  



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Filho de Tachibana Inan - haicaísta discípulo de Matsuo Bashô, Ryôkan se tornou monge muito jovem. Em busca de crescimento espiritual, estudava poesia chinesa, praticava caligrafia e literatura, compondo haicai no renga e waka. 

Pertenceu à escola Sôtô de zen-budismo ( zazen), que praticava a meditação em posição de lótus. 

Como muitos outros haicaístas, Ryôkan também saiu em uma viagem de 5 anos em peregrinação e mendicância pelo Japão, uma forma de fortalecer a sobrevivência espiritual. Por isso, muitos dos seus poemas falam sobre a cuia de esmolas, sempre presente na sua vida. As dificuldades financeiras foram constantes em sua existência, assim como a oportunidade de viver em lugares de natureza exuberante e misteriosa. A mendicância era muito mais um exercício de espiritualidade que sobrevivência. 



A sua escolha por uma vida ascética como trajetória para o crescimento espiritual foi vista como excêntrica, algumas vezes sendo descrito como louco, velho mendigo, eremita, entre outros. Todavia, essa vivência lhe deu um olhar profundo sobre o ser humano. 

Além de haicais, Ryokan escrevia poesia em chinês ( kanshi), na forma tradicional japonesa 5 7 5 7 7 ( waka ou renga), também escreveu chôka - poema longo, forma arcaica de poesia japonesa.  

Nasceu em Izumozaki, atual província de Nugata. Escreveu cartas, textos críticos e quase dois mil poemas. Sua produção se deu em diários, cartas, leques, anotações, biombos, trabalho de caligrafia, desenhos, etc. 

*

Nas minhas leituras sobre o haicai, o jisei tem me chamado muita atenção. Talvez, isso se deva aos diversos lutos que enfrentei nos últimos anos, mas também uma renovação no meu olhar sobre o haicai, das primeiras impressões de ser um registro de um momento da natureza a uma prática poética muito mais profunda. 

me despeço agora
está na minha hora
poente de outono

Ryôkan Taigu 


Existem algumas informações de que Ryokan teria escrito seu jisei, todavia a biografia nega, pois o haicai acima poderia se tratar da despedida de um amigo. 


Notinhas:
Jisei - Poema de morte ou últimas palavras do haicaísta.
Honkadori - poema anterior ao qual o texto produzido se refere.
bon'odori - Festival japonês que ocorre em agosto ( verão) mas cuja dança é considerada kigo do outono.
Teishin - monja, discípula literária e espiritual de Ryôkan, organizou a coletânea Hachisu no tsuyu - O orvalho no lótus de poesia waka. Teishin estava presente na hora da morte de Ryôkan. 
- Teriam vivido uma grande história de amor?

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Este livro está disponível em e-book na Amazon  R$20,00.
No site da Editora Bestiário, por R$35,00   
(Valores acima foram pesquisados em 26/07/2020) 



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O hai-kai é uma pérola;
O poetrix é uma pílula.
Goulart Gomes